“MARGINAIS CRESCEM E SE PROLIFERAM COMO RATOS DE ESGOTO”, DIZ CORONEL DA PM/SC

Confira abaixo a mensagem de despedida lida pelo coronel Paulo Henrique Hemm durante a troca de comando da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC).

O evento foi realizado nessa quinta-feira (22/02), no Centro de Ensino da PMSC, em Florianópolis.

“Quero de todas as formas agradecer à Deus por me permitir fazer minha última fala neste Quartel Escola, onde tudo iniciou. Aqui cheguei à pé, 38 anos atrás, pois não tinha dinheiro nem para a passagem do transporte coletivo. Mas tinha vontade, sonhos e esperança.

Hoje findo minha etapa, nesta inabalada corrida em prol do servir e proteger. Entrego o bastão a um competente e comprometido Oficial, ao qual desejo força e sabedoria. Corremos, suamos, tropeçamos, e tentamos cumprir nossa missão.

Onde saio como entrei, pela porta da frente. Com sonhos, porque sem sonhos não temos objetivos, e continuo na esperança do verdadeiro reconhecimento Institucional. Pois nenhuma outra profissão entrega sua vida em favor de outro que jamais viu.

Parto de uma esperança em cima de uma desesperança. Onde marginais crescem e se proliferam como ratos em esgotos, banalizando e zombando à violência, sem temer Leis e Códigos e muito menos o respeito à vida humana. Temendo somente força superior a deles.

Sigo na esperança que a Segurança Pública seja realmente tratada como merece.

Segurança tem pressa com efetividade, não com meros discursos. Acompanhamos reforma tributária, reforma política, reforma econômica e cadê a reforma criminal.

Hoje vemos surgir no Brasil doutos, especialistas, policiólogos, bruxos, estrelas de brilhos duvidosos que sob lentes e holofotes de TVs, promovem os mais variados discursos, até mesmo que algema constrange o detido. Porque não pergunta ao cidadão violentado. Porque não se põe no lugar do policial que colocou sua vida em risco para contê-lo. Discursar soluções apenas conhecendo violência pela TV. É como oferecer somente o cardápio para quem está com fome.

Segurança Pública realmente necessita que investimentos aconteçam, que aja uma política de enfrentamento, que se promova a cultura da prevenção. Mas principalmente que de fato ocorra a valorização do Policial.

E VALORIZAÇÃO não se faz com equipamentos, isso são ferramentas. Se faz com respeito e com ações que os fortaleçam, que os respaldem. Que os assegurem. Se assim não o fizerem, continuarão preocupados em retirar o carrapato do gado e não de impedir que ele nasça.

Falo em nome daqueles policiais que hoje estão em cadeiras de rodas ou numa cama de hospital. Do policial oprimido por uma Lei hipócrita e Injusta. Do policial sem rosto e onde o lamento de sua voz não atinge. Desses que estão a sua frente, que estão no meio da arena, cujo o rosto está sujo de pó e sangue, que luta com valentia, que erra, que falha, que acerta e que vence. Desse que sai diariamente as ruas para combater o crime, preservar a ordem, que leva tiro, que acolhe, que assiste, que defende, que se torna por um minuto médico, psicólogo, padre ou professor, que vê esvair seus esforços quando o marginal que cometeu um delito contra o cidadão volta ao convívio social no mesmo dia, ou o prende no dia posterior cometendo um novo delito. Mas que não perde o entusiasmo, que é devotado e se dedica até o último alento, dispostos a ir às ultimas consequências para proteger as pessoas.

Se entristece em saber que no ciclo dessa impunidade quem é penalizado é o cidadão.

Me permitam um minuto a mais para agradecer aqueles policiais militares lá do Bairro carente onde nasci, que me viram vendendo picolé, que me viram crescer e que me estimularam a ingressar nesta minha amada Instituição. Com o pedido: torná-la mais humana. Quero dizer para muitos que ainda estão vivos. Que busquei. O tempo será meu testemunho.

A minha família. Essa vivenciou as alegrias e tristezas. E o quanto dela me ausentei.

Agradecer a todos os meus Comandantes e Autoridades constituídas que durante todos esses anos me permitiram comandar.

Agradecer todas as Organizações e Instituições que tive o privilégio harmônico de conviver.

Aos Oficiais da nossa PM que juntos me deram a oportunidade de comandar e que a vida lhes sagrou com a missão de liderar. Continuem a ter objetivos práticos e procurar meios específicos para alcançá-los. Ao mesmo tempo sempre haverá o risco da decepção, do ressentimento e da indiferença se os planos e objetivos não se concretizam. Neste momento eu diria a vocês, nunca percam a esperança que nos inspira a continuar insistindo e empregar todas as energias e habilidades em nome daqueles para quem trabalhamos, aceitando resultados, tornando possível, encontrando novos caminhos, sendo generosos, e mesmo sem resultados aparentes, mantendo a esperança viva, com a constância e a coragem que surgem da aceitação da vocação de liderar. A vocês minha gratidão eterna.

Aos nossos Praças minha eterna reverência. Com vocês eu aprendi o valor do respeito, da dedicação, da amizade, do companheirismo, do se doar, da união. Da abnegação, coragem e destemor na execução de missões.

Findo usurpando Lincon: “ Logo o discurso feito será esquecido. Mas não poderemos esquecer o que nossos policiais do passado fizeram. Daqueles que nobremente combateram. Que dos mortos a que honramos, adquiramos à dedicação à causa pela qual sua devoção foi expressa da maneira mais plena, que com honra e dignidade escreveram com sangue sua passagem na Corporação. Que suas mortes não tenham sido em vão”. E que a segurança das pessoas esteja sempre em primeiro lugar.

Encerro agradecendo à Deus pela maior das oportunidades em uma carreira Policial Militar, comandar minha Instituição.
Meus pais (em memória) espero não tê-los decepcionados.

E como Clarice Lispector: “Até onde posso vou deixando o melhor de mim…Se alguém não viu, foi porque não me sentiu com o coração”.

A vocês minha eterna Continência.”

(Fonte e foto: Polícia Militar de Santa Catarina)

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