ESPECIAL: MORTE DE CHICO MENDES COMPLETA 30 ANOS NESSE MÊS DE DEZEMBRO

Quando faltavam três dias para o Natal de 1988, os olhos de todo o planeta se voltaram para uma cidadezinha pobre e violenta dos confins do Brasil: Xapuri (AC), cercada pelo inferno verde da Floresta Amazônica, a poucos quilômetros da fronteira com a Bolívia. O que pôs Xapuri no centro do mundo foi o assassinato de Chico Mendes.

O seringueiro, ambientalista e líder sindical foi executado com um tiro de espingarda no quintal de sua casa, na noite de 22 de dezembro. Ele tinha completado 44 anos uma semana antes. A polícia logo prendeu os responsáveis pelo crime, dois fazendeiros, que foram condenados a quase 20 anos na cadeia.

Documentos históricos mantidos sob a guarda do Arquivo do Senado contêm os discursos feitos pelos senadores da época e ajudam a mostrar o significado do episódio ocorrido 30 anos atrás: o assassinato de Chico foi o grande divisor de águas da questão ambiental não só no Brasil, mas no mundo.

— Hoje os sinos dobram por esse líder que só passamos a conhecer depois de sua morte — discursou o senador Leite Chaves (PR).

Chico, de fato, era um ilustre desconhecido. Fazia uma década que, de Xapuri, ele pregava contra a destruição da Amazônia sem ser ouvido. Em Brasília, o poder público ignorava sua existência. A imprensa do eixo Rio-São Paulo tinha vagas informações sobre Chico Mendes e preferia não publicá-las.

Ele era filho e neto de seringueiros. Desde criança, acompanhava o pai nas incursões na mata para extrair látex. O fluido esbranquiçado da seringueira é a matéria-prima da borracha. Foi só adulto que Chico aprendeu a ler e escrever, como pupilo de um velho combatente comunista da Coluna Prestes (1925-1927) que se refugiara na Amazônia.

Numa terra de iletrados, ele foi rapidamente alçado ao posto de líder. No fim da década de 1970, ajudou a criar em Xapuri um sindicato de seringueiros, do qual foi presidente até ser assassinado. Chegou a fazer uma breve incursão na política, como vereador do MDB e, depois, como um dos fundadores do PT no Acre.

— Aqui nos sentimos um pouco culpados por sua morte — continuou o senador Leite Chaves. — Acabamos de fazer uma Constituição que abre caminhos a todos. Demos até aos índios segurança de suas reservas, mas não garantimos aos seringueiros o seu habitat, onde têm vivido por gerações.

Ele chegou a escrever uma carta aos constituintes pedindo que, para o bem dos seringueiros, criassem a figura da reserva extrativista, áreas da floresta que seriam exploradas pelas populações tradicionais e não poderiam ser desmatadas. Como seu nome não tinha peso, acabou sendo só mais um no meio dos militantes das diversas causas sociais que buscavam ser ouvidos.

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