Embora os mandados de busca e apreensão cumpridos hoje na Casa da Agronômica e no Centro Administrativo por agentes da Polícia Federal e do MInistério Público Federal, representem uma investigação, a imagem do governador Carlos Moisés estremece em relação ao discurso dele próprio de combate à corrupção, de saneamento das dívidas herdadas de governos passados.
Sem falar que, respondendo a dois processos de impeachment, um deles em fase final de julgamento, Carlos Moisés que vinha buscando apoio popular como arma de defesa, agora vai ter que se explicar para a sociedade.
As ações dos agentes federais hoje, autorizadas pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, atenderam pedidos do Ministério Público Federal que, junto com a Polícia Federal, que apura fraudes na compra de respiradores para enfrentamento da pandemia da covid-19 no estado. O contrato sob suspeita movimentou R$ 33 milhões. O caso tramita sob sigilo e, por isso, neste momento, não serão divulgados os nomes dos demais alvos das buscas, bem como a íntegra das peças que compõem o inquérito.
Com as medidas, os investigadores buscam provas da relação entre o governador, sua equipe e empresários que venderam 200 respiradores ao estado de Santa Catarina. As investigações revelaram indícios de participação do chefe do Executivo estadual na contratação da empresa Veigamed.
“ESQUEMA CRIMINOSO”
Ao STJ, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo afirma que as buscas são necessárias para aprofundar as investigações e para verificar se a ordem de pagamento antecipado partiu do governador Carlos Moisés. Para o MPF, há elementos que demonstram a constituição de um esquema criminoso de desvio de dinheiro público.
Além disso, os investigadores apuram se houve lavagem de dinheiro decorrente da prática do crime antecedente contra a administração pública, mediante ocultação e distanciamento da origem dos recursos públicos desviados da compra de respiradores.
“Tais delitos comprometem a higidez e a credibilidade do governo do estado de Santa Catarina e põe em risco a saúde e a vida de toda a população catarinense, acometida dos males decorrentes do covid-19”, sustenta. “Além do mais, não se está a tratar de caso relacionado a criminalidade corriqueira, mas sim de fatos praticados em contexto de suposta criminalidade organizada, sofisticada e estruturada com os mais altos aparatos de poder, contando com a articulação de agentes com poder econômico, elevado conhecimento jurídico, forte influência política e, inclusive, a autoridade máxima do Poder Executivo catarinense”, conclui.