Um dado preocupante que foi divulgado hoje durante o 1º. Seminário de Enfrentamento da Violência Contra a Mulher que está sendo realizado no Tribunal de Justiça: de acordo com a Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, CEVID, de janeiro a agosto deste ano, as 111 comarcas do Estado receberam 18.391 novas ações de crimes relacionados a violência contra a mulher. Isso representa mais de 75 novos processos por dia.
O seminário, aponta outro lado dessa violência: Também neste ano, 43 mulheres foram vítimas de feminicídio em Santa Catarina. Preocupado com a falta de atendimento aos agressores, o professor e assistente social Ricardo Bortoli criou em Blumenau grupos reflexivos para tratar os homens. O tratamento consiste em 12 encontros, duas vezes por mês, em que a intenção é desconstruir o machismo
“JUSTIFICATIVAS” PARA AGRESSÕES
De 2004 a 2012, o professor realizou uma pesquisa com 122 homens e registrou os principais motivos para a violência apontados pelos agressores. O ciúme, a recusa de sexo e o fim do relacionamento estão entre as “justificativas” mais recorrentes.
Na outra ponta do problema, a ONG Casas das Anas recebe as mulheres e seus filhos vítimas de violência. A coordenadora Mariana Torres Roveda dos Santos explicou que o número de denúncias poderia ser maior se as vítimas tivessem um local seguro para ir após o registro do boletim de ocorrência. Desde 2017, mais de 200 pessoas foram acolhidas nos abrigos de Balneário Camboriú e de Itajaí.
Nas casas de acolhimento, as mulheres e crianças recebem bem mais do que uma cama e um prato de comida. “Trabalhamos no empoderamento das mulheres, porque muitas são dependentes financeiramente dos seus companheiros. Também damos atenção para que as mulheres não reproduzam a violência em seus filhos, para interromper esse ciclo que infelizmente tem início na infância”, comentou Mariana.
O seminário, que termina hoje é organizado pela Cevid/TJSC, Academia Judicial, Associação das Assistentes Sociais e UFSC.
PARTICIPAÇÃO DA IMPRENSA
O seminário também discutiu o papel da imprensa no enfrentamento da violência contra as mulheres. Para a jornalista Schirlei Alves, do jornal Notícias do Dia, o papel da imprensa é promover o debate na sociedade e cobrar soluções dos entes públicos. Pontualmente, admite, incorre em erros também. “A imprensa acaba expondo muito a vítima, mas por conta do sigilo das ações desta natureza o agressor não é mostrado. Essa é a nossa falha”, destacou.
Na opinião do jornalista Paulo Muller, da NSC TV, num Estado em que uma mulher é violentada a cada três horas a educação deve ser a bandeira para a transformação. “A imprensa tem um importante papel na educação da sociedade, divulgando e apresentando novas iniciativas e boas práticas. Porque em briga de casal a gente mete a colher”, disse.
Em Palhoça, o professor Robson Ferreira Fernandes, da EEB Ursulina de Sena Castro, debate com os alunos a cultura do machismo como causa do feminicídio. Os estudantes foram incentivados a entrevistar autoridades e pessoas comuns sobre o tema. “O assunto deve ser debatido pela comunidade escolar. A masculinidade tóxica tem comportamentos que levam a agressão e, para mudar de atitude, os homens precisam tomar consciência de seus atos”, declarou.
O seminário, que termina hoje é organizado pela Cevid/TJSC, Academia Judicial, Associação das Assistentes Sociais e UFSC.